Canção para ‘Paulo’ (A Stuart Angel)

Canção para ‘Paulo’ (A Stuart Angel)

Eles costuraram tua boca

com o silêncio

e trespassaram teu corpo

com uma corrente.

Eles te arrastaram em um carro

e te encheram de gases,

eles cobriram teus gritos

com chacotas.

Um vento gelado soprava lá fora

e os gemidos tinham a cadência

dos passos dos sentinelas no pátio.

Nele, os sentimentos não tinham eco

nele, as baionetas eram de aço

nele, os sentimentos e as baionetas

se calaram.

Um sentido totalmente diferente de existir

se descobre ali,

naquela sala.

Um sentido totalmente diferente de morrer

se morre ali,

naquela vala.

Eles queimaram nossa carne com os fios

e ligaram nosso destino à mesma eletricidade.

Igualmente vimos nossos rostos invertidos

e eu testemunhei quando levaram teu corpo

envolto em um tapete.

Então houve o percurso sem volta

houve a chuva que não molhou

a noite que não era escura

o tempo que não era tempo

o amor que não era mais amor

a coisa que não era mais coisa nenhuma.

Entregue a perplexidades como estas,

meus cabelos foram se embranquecendo

e os dias foram se passando.

Abaixo, especial da Globo sobre Zuzu Angel onde sua filha, Hildegard, conta da emoção da mãe ao receber a carta de Alex Polari, em maio de 1975, dando detalhes sobre a tortura e a morte de Stuart

https://www.youtube.com/watch?time_continue=6&v=_FovIUSj59Y

#ditadura#golpe militar#poesia#stuart angel#zuzu angel

Alex Polari
Enviado por Serpente Angel em 25/10/2018
Código do texto: T6485615
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