Partida
A felicidade leva muito tempo
Nunca se sabe quando lá chegar
Às vezes nem como
A tristeza é imediata
E a única coisa que vem fácil
E pode para sempre durar
É a falta de felicidade
A nos felicitar
Vai dizer-nos "parabéns"
Pela fraqueza de espírito
Vai festejar na nossa cara
Nossas amarguras
Vai fazer de nós reféns
Das suas falcatruas
E deixar as almas nuas
De aceitar o bem
Com risos de desagrado
A alegria é forjada
O brilho escurido
De viver por mais um dia
Tudo vai continuar
Menos a vida
E ali cabe a nós
Reverter a partida
É o jogo dos sem(timentos)
Onde somos súbditos
Como peões briguentos
De deuses aborrecidos
Somos nós a jogar
Mas não fazemos nós o jogo
Até que propositadamente
Pomo-nos a perder
Construir os partidos
Nessa partida de complexidades
É depender de ninguém
Morrer a própria morte
Matar-se para viver
Aceitar os desafios
Não desafiar-se a tudo
Participar
Jogo de gangues e sangue
Onde os mijos lacrimejam
O suor não seca
A corrida não descansa
Usar as mãos
Os pés
A barriga alimentar
Dizer "não"
Também
O cérebro usar
Dizer "sim"
Talvez
Nem sempre é o mais certo
O jogo é violento
Morre-se
Em cada movimento.