imagem: Além Tejo - fonte: Google
A MORENA DE ALÉM TEJO
Ano de mil novecentos e sessenta e três acabando
e eu me preparando para mais uma realização.
Estudante de Direito na São Francisco me formando,
não cabia dentro de mim de tamanha satisfação.
Uma adolescência com regalias mas sem uma falta,
embora pertencendo a família de classe média alta.
Meus planos de vida já estavam todos traçados.
Abraçaria como desejava, o exercício da advocacia.
Já tinha convite para integrar uma banca de advogados.
Era tudo o que mais sonhava, tudo o que mais queria.
Dos movimentos estudantis eu vivia a participar.
Na OAB já havia um lugar pronto para eu ocupar.
Foi quando um militar que do meu pai era amigo,
nos avisou que neste país muitas coisas iam mudar.
Alertou que com o nome marcado eu corria perigo,
Pois, com certeza, muitas cabeças iriam rolar,
e entre todas elas a minha deveria estar.
Mas ele já havia pensado em uma solução:
eu faria uma viagem à Coimbra para pós-graduação.
E assim embarquei para aquela cidade sem igual,
onde logo me uni com outros jovens simpáticos
e entendi porque Coimbra é um orgulho de Portugal.
Mesmo ligados às tradições, em nada eram fanáticos.
Dedicavam quase todo tempo só para os estudos,
mas mesmo assim eram românticos e divertidos.
E foi num dia treze de maio que fui à Fátima rezar
e conheci aquela mulher que me encantou e fascinou.
Diante daquela Santa bendita ela veio comigo falar.
Eu delirava, pois seu encanto por mim confessou.
Nem soube seu nome, só que morava em Além Tejo
e ali mesmo, aos pés de Fátima, ganhei seu beijo.
De volta a Coimbra, para estudar não tinha condição.
Os longos cabelos, sobre os ombros daquela morena
e seu olhar azul, uma luz penetrando no meu coração.
Tudo ia me envolvendo naquela sensação tão serena,
que me criava mais um bom motivo para querer viver.
Precisava a qualquer custo reencontrar aquela mulher.
Passou-se muito tempo até que a coragem tomei.
Pois, provando seu amor, seu endereço ela me deu.
Por que tão apaixonado, tanto tempo eu demorei ?
Mas mesmo assim uma chama no coração me moveu.
Cheio de alegria e esperança cheguei à sua cidade,
convicto que encontraria ali toda minha felicidade.
Só que minha chegada se deu uma semana atrasada.
Aos vizinhos ela até disse ter encontrado seu amor
e escancarado seu coração aos pés da Santa amada.
Só que longa espera dilacerava seu peito com dor
e assim partia e o seu destino a ninguém revelava,
pois não queria um amor que tanto tempo titubeava.
Respeito os designos de Deus, mas ainda desejo,
encontrar de qualquer jeito a morena de Além Tejo !
SP - 08/06/07
Fernando Alberto Salinas Couto
A MORENA DE ALÉM TEJO
Ano de mil novecentos e sessenta e três acabando
e eu me preparando para mais uma realização.
Estudante de Direito na São Francisco me formando,
não cabia dentro de mim de tamanha satisfação.
Uma adolescência com regalias mas sem uma falta,
embora pertencendo a família de classe média alta.
Meus planos de vida já estavam todos traçados.
Abraçaria como desejava, o exercício da advocacia.
Já tinha convite para integrar uma banca de advogados.
Era tudo o que mais sonhava, tudo o que mais queria.
Dos movimentos estudantis eu vivia a participar.
Na OAB já havia um lugar pronto para eu ocupar.
Foi quando um militar que do meu pai era amigo,
nos avisou que neste país muitas coisas iam mudar.
Alertou que com o nome marcado eu corria perigo,
Pois, com certeza, muitas cabeças iriam rolar,
e entre todas elas a minha deveria estar.
Mas ele já havia pensado em uma solução:
eu faria uma viagem à Coimbra para pós-graduação.
E assim embarquei para aquela cidade sem igual,
onde logo me uni com outros jovens simpáticos
e entendi porque Coimbra é um orgulho de Portugal.
Mesmo ligados às tradições, em nada eram fanáticos.
Dedicavam quase todo tempo só para os estudos,
mas mesmo assim eram românticos e divertidos.
E foi num dia treze de maio que fui à Fátima rezar
e conheci aquela mulher que me encantou e fascinou.
Diante daquela Santa bendita ela veio comigo falar.
Eu delirava, pois seu encanto por mim confessou.
Nem soube seu nome, só que morava em Além Tejo
e ali mesmo, aos pés de Fátima, ganhei seu beijo.
De volta a Coimbra, para estudar não tinha condição.
Os longos cabelos, sobre os ombros daquela morena
e seu olhar azul, uma luz penetrando no meu coração.
Tudo ia me envolvendo naquela sensação tão serena,
que me criava mais um bom motivo para querer viver.
Precisava a qualquer custo reencontrar aquela mulher.
Passou-se muito tempo até que a coragem tomei.
Pois, provando seu amor, seu endereço ela me deu.
Por que tão apaixonado, tanto tempo eu demorei ?
Mas mesmo assim uma chama no coração me moveu.
Cheio de alegria e esperança cheguei à sua cidade,
convicto que encontraria ali toda minha felicidade.
Só que minha chegada se deu uma semana atrasada.
Aos vizinhos ela até disse ter encontrado seu amor
e escancarado seu coração aos pés da Santa amada.
Só que longa espera dilacerava seu peito com dor
e assim partia e o seu destino a ninguém revelava,
pois não queria um amor que tanto tempo titubeava.
Respeito os designos de Deus, mas ainda desejo,
encontrar de qualquer jeito a morena de Além Tejo !
SP - 08/06/07
Fernando Alberto Salinas Couto