Todos os gatos são pardos, como minha cor
Na noite, todos os gatos são pardos, como minha cor
Meus cachos amarrados, um blusão quadriculado que atravesso por todas as estações
Tão manjado quanto nossas opiniões de certo ou errado
Sobre amar ou fingir desinteressado
Na minha frente, num trecho deserto, de um bairro complexo entre o limite do meio fio e os pneus barulhentos dos que nesta vida foram privilegiados a andar orgulhosos numa cadeira com várias rodas
Ele veio com seu andar largado, também pardo, com um outro tom no seu quadriculado, cabelos cacheados guardados no boné.
E me barrou com um beijo, dizendo sou o Robson! E que leu meus poemas.
Meus poemas!!
Fui assaltada pelo sorriso sereno e lembrei que naquele mesmo trajeto em outra parda noite gata, ele me iluminou.
Hoje desejei um beijo verdadeiro, não era do Robson, mas valeu super a pena
Pare, deixe as cores
A idealização delas travam os amores, os sonhos, as parcerias, as selfies
Pare deixe as cores e assim terá energia para outros valores
Meu pai, em tentativa de composição, disse-me que o amarelo da bandeira não o aceitou como legítimo filho.
Lógico, amarelo é ouro que, naturalmente, considera poucos.
Use as cores, para ajudar os analfabetos a identificar o ônibus que vai pro jardim de Alá
Use as cores para ajudar o mestrando a entender que o vermelho do semáforo é stop
Deixe as cores e perceberá que parda sou e no ilê quero brincar
Deixe as cores, que meu pardo perturbou porque o preto e branco se uniu
Pegue as cores, seu pincel e tela
Faça uma obra pra ela
Deixe as cores brincar com a natureza
Quando procurar o camaleão vá direto no chiclete
Deixe as cores e veja o verde abacate
Vitaminando o orgulho pela bandeira
Deixe as cores e pinte os rios e mares
Sejamos pardos
Sejamos gratos