Ainda me Habita uma Criança
Ainda me habita uma criança
De algum modo
ainda uma criança me habita.
Dentro de um sorriso
que não esconde o coração,
Num gesto simples
de carícia sem intensão,
Naquele trocar
de afeto que não pede,
somente dá porque tem de sobra.
Aquela menina
que acreditava nas pessoas
foi molestada pela indiferença
de tantos sorrisos falsos,
palavras sem som
que ecoaram sem trazer nada
ao coração...
Abraços que buscaram amparo
de colo de mãe
em dias de tormenta,
quando a alma se agitava,
querendo fugir...
Em mim ainda existe aquela criança
que acredita que
a pureza da idoneidade
serve pra trazer de volta
a simplicidade que permite
ser mais que ter.
Crê que a mentira existe
pra dar vida aos monstros,
mas que eles só vivem
na imaginação de gente ruim,
dentro de estórias
pra dar medo ao dormir.
Serei eu a única
a acreditar na palavra?
Sou a última criança
desse mundo doído
que fede
a tantas crianças mortas de sede,
sede de amor,
sede de calor humano,
De sinceridade,
de abraço de quem é transparente,
como quem traz o coração na boca,
sem mentira ou julgamento,
com pressa de ser melhor que ontem.
Meu mundo é utópico porque acredito demais...
Feito criança que não vê Papai Noel
no próprio pai,
mesmo que seus dedos
sejam iguais...
Sou assim e não desejo mudar,
mesmo que sofra
as decepções das descobertas.
Não matarei a minha criança!
Não direi à ela
que o mundo é uma farsa,
porque mesmo que doa,
saberei que minha criança interior
tentará brincar durante a vida,
enquanto os adultos
fingem que crescem...