O DISCURSO DAS MUSAS
“No recanto do Parnaso”
Ó Calíope divina, eu quero que me arrebates
P´ las selvagens escarpas deste meu Parnaso
E me protejas de algum qualquer embaraço
Até que almeje vencer todos os combates…
Tu, ó sagrada Musa, de encantada voz,
Que a todo o universo dás o maior brilho,
Quero que me concedas luz e um róseo trilho
E que os meus versos confluam pra tua foz.
Ó Clio experimentada, eu quero celebrar
Contigo pela certa, e sob bons auspícios,
O doce paladar de humanos benefícios
Que sejam para mim o gáudio de um sonhar.
E se ocorrer algum momento caprichoso,
Oriundo de alguém que m´ intente denegrir
Com traiçoeiras armadilhas pra eu cair,
Concede-me o alerta de um estro radioso.
Ó diva Érato, no Parnaso a mais charmosa
E às vezes um motivo pra quem tem inveja,
Não me deixes arrastar por quem quer que seja
Para que eu perca a liberdade, que é preciosa.
E se eu tiver aquele nefasto pressentimento
De que há falsos valores que me turvem a razão
Não deixes que eu confunda o belo co´ a ficção
E retorne sereno, com reforçado alento.
Ó casta Euterpe, que do Parnaso és enfeite
Pro divo Apolo e pros fiéis empreendedores,
Retira do meu trilho todos os dissabores
Para qu´ em meu ofício sinta mais deleite.
E seja aí, ou mesmo em qualquer outra parte,
Que nunca esteja ausente todo o meu empenho
Em seguir uma estrutura e um fiel engenho
Que dê valor ao meu talento e à minha arte.
Ó Melpómene, ó artista de airoso canto
Que delicias os sentidos, abrindo à alma
O palco do Parnaso com suave calma,
Sê promotora e diva de mavioso encanto.
No mais gracioso e ornamentado jardim
Permite que eu usufrua de todos os aromas
Que me libertem dos maliciosos sintomas
E que os meus cabelos se ornem de jasmim.
Ó alegre Polímnia, vestida de harmonia
E de francos sorrisos anunciando festa,
Aceita minha alegria, ainda que modesta,
E que me inunde o coração de Poesia.
E, se tiveres inspiração, compõe um hino
Com partitura melódica de fulgor
E que este meu cantar, com paixão e amor,
Me dê a clara fé e um promissor destino.
Ó Tália bela, entre todas a mais distinta
Das finas flores desse Parnaso florido,
Dá cor a este meu dia com um tom garrido
E que a minh´ alma de poeta enlevo sinta.
Tomara que eu tivesse o teu audaz florir
Num horizonte cada vez mais requintado
E, de uma vez por todas, meu infeliz fado
Volte, para meu bem, de novo a ressurgir.
Ó Terpsícore, ó diva da minha esperança,
Da boa-esperança que em cada hora vem,
Tu que és a Musa que toda a virtude tem
Estende a tua mão, deleita a minha dança.
Se o meu passo contigo não harmonizar
Por falta de audácia, ou de ondulação,
Permite que eu encontre a melhor solução
Na mais segura onda do meu amplo mar.
Por fim, ó Urânia, musa do Orbe celestial
Que enredas o Apolo em teu fogoso laço,
Faz chegar até mim um caloroso abraço
E que eu o retribua num gesto liberal.
E se ora me falhar o brilho e a claridade
Sê, para mim, farol neste brumoso oceano
E que a sorte me salve do fatal desengano
Trazendo aos meus poemas toda a dignidade!
Frassino Machado
In FILHOS DA ESPERANÇA