EU PENSAVA
EU PENSAVA
Eu pensava que a vida era eterna;
Que sempre seria jovem, e que sempre poderia recomeçar.
Até que a adolescência acabou e me vi trabalhando;
Era necessário abrir mão dos prazeres
Para continuar os estudos e ter uma profissão.
Eu pensava , no entanto, que era apenas uma fase;
Que logo me sobraria tempo para gozar a vida.
Aí veio o casamento; achei que era o apogeu definitivo.
Logo vieram os filhos, as contas, as dívidas e mais contas.
Eu pensava, então, que a vida era longa e que daria tempo para tudo.
Surgiram de repente as crises econômicas, políticas e conjugais;
E como se não bastasse, as crises com os filhos adolescentes.
Eu pensava ainda, que era uma questão de tempo, que logo viria a aposentadoria,
E que, aí, sim, a vida fluiria.
Foi quando vieram as doenças, o casamento dos filhos,
O nascimento dos netos,
E novas contas, dívidas e mais contas.
E então veio a idade...
E vi que a vida não era eterna,
E o que eu pensava não resistia ao tempo.
Foi quando me dei conta que apesar de tudo eu vivera.
Os sonhos, os ideais, as lutas, o amor,
Enfim tudo, foram rosas cultivadas no jardim de minha vida
E que agora deixavam o suave aroma da paz de espírito.
Compreendi que, enquanto tantos não tinham o que comemorar,
Eu podia comemorar o dom da vida.
E entendi, como o poeta, que a vida é eterna enquanto dura.