Enquanto isso ...

Enquanto isso,

O motorneiro vai tocando o bonde

Espetáculo de sombra e luz

Que num instante desaba

Nunca mais tentei parar o tempo

Depois que ele se foi

A impressão que dá é que ele acaba

Em todo lugar onde há começo

A vida é que corre ao avesso

E ninguém vê

Se esquece que o Sol se põe

No momento em que nasce

Desse modo é que tudo se dá

Só não dá pra mudar nada

Mas eu teimo em transformar

Poesia em sonho

Pra não ter que dizer adeus

Confesso o pecado alheio

Coisa estranha

Os sonhos não eram seus

E aos poucos se foram

Deixando ficar

Sem altos, sem baixos

Nem perdas e ganhos

Enquanto isso

Um violeiro louco vai tocando no deserto

O sonho parece mais perto

Que o lugar bonito que vejo, quando acordado

Passo a noite pensando e quase rio

Quase rio, quase todo dia

Quase dia, quase poesia

Enquanto isso

O timoneiro vai tocando o barco

A vista alcança o invisível

E durante o caminho

A vontade de aço fraqueja

A gente erra

E os sonhos parecem naufragar

Em um Mar tão distante daqui

Nada mais que o pó da estrada

Dá um nó na garganta

Só de pensar

Na pena de não sonhar

Pois hoje é dia de semana

Te aparta de mim

Eu sou um cara por demais comum

Enquanto isso

O coração que vai tocando a prece.

Edson Ricardo Paiva.