CANÇÃO DO REGRESSO

Levaste os sonhos de quem tentava apenas repousar,

Oh, dor que sorrateiramente furtas os favos doces do coração,

Carimbando suas flechas envenenadas sob a pele,

Até que a alma adoeça em sua miséria.

De que adianta a misericórdia de um novo dia,

Se os fantasmas permanecerem abaixo da cama,

Levantando suas vozes em cada anoitecer,

Para que o menino sobre o lençol se recorde das dores.

Foge minh’alma, para que não padeça com o corpo quebrado,

E traga de volta os sonhos que levantaram voo sem saber voltar,

Conduza-os nas asas do vento, faça-os regressar,

Pois estarei acordado, como uma mãe espera seu filho retornar.

Não há um vivo sequer que afirme que haja um para sempre,

Pois até as bases mais seguras sofrem evoluções,

E ao som dos risos dos sonhos novamente capturados,

A dor terá que se calar.

Onde estarão os aguilhões da dor,

Quando já não houverem fantasmas sob a cama,

Serão apenas lembranças, nuvens dissipadas de um dia que choveu,

E as lacunas serão preenchidas na proteção deste amor.

E dias melhores virão,

Finalmente respiraremos em paz,

Com as asas restauradas,

Acordaremos, mas sem deixar de sonhar.