QUANDO TUDO É TARDE
Quando tudo é tarde em velhice pobre,
Que encobre carência e paciência,
Que maltrata e distrata com indecência
Idade passada, pisada e repisada...
Vejo através do tempo encardido,
Que ao meu palco serviu de tema,
Um passado de amargura que não termina,
Onde em nada encontrei na hora prima...
Vivi ditosos sonhos, me embriaguei
Muitos desafios terminei, outros nem tanto,
Muitos tombos e fui ao chão em cada canto,
Pela contramão caminhei e me perdi,
Contracanto dos anos que me foram impostos
Pura maldade, Ideias contrárias e decepções amealhei,
A contragosto me encontro em hibernal idade...
À duras penas à octogenária vida estou,
Brio, caráter e honradez cultivados,
De fronte erguida desafios enfrentei,
Por fome, doença e nudez passei,
Tiritando de frio, difíceis intempéries,
Pelas estradas tardias por onde passei,
Contraponto nesta dura arte de viver,
Rolando ao chão do meu calvário,
E tentando enfrentar vento contrário,
Subindo escadarias, metas não alcancei...
Resto-me em terra na terceira idade,
Em meu alforje coleciono desventuras,
Dura infelicidade arruinou-me a vida,
Sinto-me preterida, cada vez mais inútil,
Sou velha, sem valor algum, sou esquecida.
Inútil e desgastada valho-me de tudo, de nada,
Netos, filhos e adendos que gerei de mim me fogem,
Iludem-se com luzes enganosas do momento,
Nem atentam que meus dias chegam ao fim
Que lucrei depois de muita refrega,
Custosa e sangrenta luta que integra
Esta minha somatória vivida?
Descaso, indiferença são o lucro
Invólucro se tudo que na terra com amor plantei
Amanhã será outro dia para estes jovens
Tornar-se-ão velhos e sofrerão de verdade
Esta realidade que hoje estou passando...
Espero que na eterna vida a mim acenada,
na prometida terra que irei viver,
Cumpra-se a promessa do Altíssimo
De um dia a Bem Aventurança encontrar,
Na partida certa que vislumbra
Eu me deslumbre com muita recompensa!