Poema das Boas Horas.
Boas horas
O dia se lamenta
Faz sangrar discretamente
Garoa que a gente não vê
Parece até que nem molha
O calor que antes fazia
Agora distante, conforme o ponteiro
Carregando, modorrento
Lentamente o dia inteiro
O ar se movimenta
Tudo mais, quando não
Excessivamente lento
Completamente parado
Boas horas
Podem acontecer em qualquer dia
Normalmente aqueles
Em que a gente não chora
Ocorrem tão rapidamente
Quando a gente olha
Distantes
Vão indo embora
Em horas assim
Tanto faz
Pois a vida tanto fez
Cortinas de fumaça
Luz de velas
Garoa se foi
Mas a noite não trouxe estrelas
Aquela doce sensação
de hora boa
destoa de tudo mais
Talvez seja questão
de tempo ou de escolha
Enquanto isso os ponteiros
Inexoravelmente
Cumprindo seus compromissos
Retornam sem muita vontade
Pro mesmo lugar distante
Hora triste
Hora boa
Garoa, luz de vela
Noite à toa
Sem perda e também sem conquista
Nada além
de outra hora e outra hora
Fatalmente
Um dia elas vem.
Edson Ricardo Paiva.