A Casa do Meu Pensamento

A casa do meu pensamento é no asfalto e na mata

Precipita-se livre nos etéreos e longos véus de noiva

Ou desliza em rodovias intermináveis e curvas insensatas

Quem manda nela sou eu e o Pai de todas as coisas

A casa do meu pensamento também tem um muro alto

Ou templo singular em forma de caverna silenciosa

Atrai e assusta, tem surpresas, há um poço de azul cobalto

Visitas são proibidas, refúgio dos meus versos e prosas

Mas todo país cedo ou tarde passa por uma convulsão

Um pirata fincou sua bandeira e, sorrateiro, furtou meu poema

Atordoada saí em seu encalço, mas ele me disse não

Não devolveria a minha poesia e podou minhas penas

Perdi o rumo da minha casa por longas noites e longos dias

Procurei minha poesia, sequestrada na emoção angustiante

Alternei revolta e prece, faltava-me um pedaço, estava vazia

Na tocaia ele levou minha inspiração, foi cruel e inclemente

Mas como nenhuma marca é mais indelével do que a fé

No deserto do meu ser veio uma voz a me acalmar

O anjo beduíno sussurrou-me: Ela estará onde você estiver

Minha poesia em verdade nunca havia deixado seu lar!