Nuvens da Esperança

Além do muro e casas caiadas sobe a fuligem

Ela cascateia por sobre as fábricas tristonhas

O cenário devastador sufoca e causa vertigem

Desolação, desamparo podam nossos sonhos

A plúmbea fumaça avança em direção ao céu

As horas mortas não perdoam nenhum ser

Autômatos marcham, línguas amargas de fel

Ruim é viver o vazio e sobre si não ter poder

Subitamente um facho de luz invade a neblina

Por descuido escapa pelas frestas das nuvens

Diáfanas e serenas formando versos que rimam

Estão grávidas dos pingos que a elas se unem

A tempestade de ontem arrefeceu, dissipou-se

O orvalho tomou conta das vidraças e flores

O vento soprou as nuvens e a esperança trouxe

Em mel de laranjeira cheio de aromas e amores

O futuro, antes sombrio, agora é cheio de cor

Onde imperava o vazio as nuvens bailam felizes

Surge o arco-íris, prenúncio da extinção da dor

Entre os prédios o Sol se põe deitando matizes.