CONVERSEI COM WALT WHITMAN
Num soalheiro fim de tarde primaveril
Deambulando por livrarias lisboetas
Reli algumas páginas das “folhas de erva”
E troquei ideias e emoções com W. Whitman
Que interpelou as minhas livres cogitações…
Não, velho Poeta, não é o que estás a pensar,
É só, e apenas, a curiosidade habitual!
Estou contigo, cabalmente, mas não te sigo
Na mesma larga estrada, aberta num horizonte
Com uma bússola e um destino a desbravar…
Não te sigo, pois tenho diferentes companheiros
Que em ti beberam, quem o sabe, a mesma ânsia,
O mesmo sonho e a mesma determinação
E até, talvez, a mesma singular bandeira.
Não quero que te espantes por eu ser sincero,
Como tu foste contigo e com todo o universo,
Por eu fazer a escolha que agora revelei,
Mas tem por certo que te estimo como ninguém.
Outras fontes, te afirmo, me desvaneceram,
Outros fenómenos a minh´ alma m´ abrasaram
E outros ideários, confesso, nunca descuidei …
Acenei a Lord Byron na minha juventude,
Espreitei p´ la janela aberta de Puchkin,
Li Victor Hugo com a máxima avidez
E apenas sombrearam o âmago dos sentidos
Aqueles poetas conhecidos por “malditos”,
Passando pelo Baudelaire e por Mallarmé,
E também por Verlaine, Rimbaud e Corbière…
Sabes uma coisa, Walt? Não consegui esquecer
Garret, Antero, Nobre, Pessanha e João de Deus,
Que me perdoem o Gil Vicente e o Camões
Que tenho à minha frente sempre a cada hora
E, como é óbvio, não são nada de desprezar
E estão, como calculas, bem acompanhados
Quer pelas suas obras, quer p´ los seus leitores.
Junto aos que referi eu sempre manterei
O nome dos poetas que foram a charneira
Da minha consistente e longa aprendizagem:
Não olvidarei Virgílio, Ovídio ou Horácio
E mais te digo, nunca esquecerei de ler
Todos os pré-humanistas e pré-renascentistas,
Como Alighieri, Petrarca e Torcato Tasso.
E sabes, Walt, qual a minha aposta em Poesia?
O meu sonho é ser ela como um “ vasto rio”
Tentando harmonizar as suas duas margens:
Numa das margens o que for de mais clássico
E na outra o que for, assaz, de mais moderno
Tornando-se os meus versos e os meus poemas
Invencível torrente para o grande Mar.
Deixaste o exemplo a muitos e muitos poetas,
Tu, incansavelmente, abriste uma nova lira,
Mas a grande parte deles se extraviaram
Por trilhos incoerentes e desvirtuados…
E sabes porquê? Porque entre o Orfeu e o Apolo
Ficaram como néscios no meio de uma ponte
E ainda lá estão perdidos em denso nevoeiro.
Eu por mim, que deixei de parte um tal Pessoa –
Aquele mesmo que te fez uma Saudação
Desprezando o teu estro humano p´ lo exotérico –
Vesti-me das roupagens de Sena e de Neruda
E, no meu versejar, tentarei prosseguir
Numa postura d´ arte poética sem fronteiras
À luz do suave voo da Águia do Marão!
Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA