HERMES FONTES VOLTOU...*
Minha vida
Não pude compreender o meu destino
Na amargura invencível do passado,
Que amortalhou meu sonho peregrino
Nas trevas de um martírio irrevelado.
Do sofrimento fiz o apostolado,
Como fizera de minha arte um hino,
Procurando o país indevassado
Do ideal luminoso de Aladino.
E fui de vale em vale, serra em serra,
Buscando a imagem fúlgida, incorpórea,
Do que chamamos – a felicidade.
Mas só colhi os frutos maus da terra,
As promessas pueris da falsa glória,
E o triste engano da celebridade.
Soneto
Sou o lavrador que fez, rude e bisonho,
A sementeira luminosa e rara
Do trigo louro e rútilo do sonho...
- Sonho lindo que nada se compara.
Não reparou o labor triste e enfadonho,
Regou, chorando, a terra que lavrara;
E da alma ingênua e coração risonho,
Esperou confiante o sol da seara.
Passados os trabalhos e os tormentos,
Quando aguardava a messe, jubilosa,
Numa grande esperança insatisfeita,
Eis que aparecem os arrasamentos,
E o pobre, desgraçado e desditoso,
Perdeu tudo no instante da colheita.
*Este autor espiritual, marcou sua presença através do sensitivo Francisco Cândido Xavier, no livro Parnaso de Além Túmulo. Editado pela FEB, em 1932, quando o médium tinha tão somente 22 anos. 56 poetas, brasileiros e portugueses se fizeram presente neste memorável livro. Realmente é algo surpreendente; mesmo aos céticos, dá o que pensar, como pode a alma dos “mortos”, voltar a escrever, mantendo, o mesmo estilo poético que tinha em suas vidas quando aqui estavam?! ...
HERMES FONTES
“Sergipano, nasceu na Vila de Boquim, em 1888, e suicidou-se no Rio de Janeiro, aos 26 de dezembro de 1930. Poeta de grande relevo emocional, deixou firmada sua personalidade literária, tendo publicado Apoteoses, Gênese, Lâmpada Velada e Ponte da Mata, seu último livro. “
Curitiba, 10 de janeiro de 2017 – Reflexões do Cotidiano – Saul
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