O Fantasma de Richard Montblanc
"O que foi que aqui se fez?"
Soava o fantasma da cara pálida
"Onde está tua sensatez
Agora que o mundo se desfez
Não havia muito para fazer
Mas fizeste isto outra vez?!"
"O que foi que sobrou?"
Disse o fantasma da alma condenada
"Considerando que cá estou
E todo dano que se causou
Ainda resta alguém para morrer?
Será que algo se quer restou?"
Ao fantasma dei as costas
Entre os escombros das memórias
Minhas, dele, todas expostas
Eram todas escórias
Derrotadas, eram vitórias
A morte de todos que amei
Foi o dia em que me libertei
"Pensa bem..."
Sussurrou o fantasma da alvorada
"Pensa naquilo que estás sem
Não há nada nem ninguém
A quem possas recorrer
Pensa, pensa de novo, pensa bem"
"No meio dos prédios destruídos"
Continuou o fantasma de pele marcada
"Todos os títulos destituídos
Todos os dias sofridos
Não são suficientes para retroceder
Mesmo se alguém tiver... Sobrevivido?"
As mãos tremeram
Entre o sangue e o suor
Dos males que me acometeram
Aquele era o pior
De longe, o pior
Ao menos estivesse o ciclo fechado
Pelos meus erros, pelo meu passado
"E tu nunca estarás sozinho"
Proclamou a figura já cansada
"Tens ainda um longo caminho
Entre os pedaços de teu ninho
Mas tu não podes esquecer
Que nunca estará sozinho"
"Nostalgia não pode ser enterrada"
Glorificou a figura endemoniada
"Tua vida há muito estava destinada
Mnemônica criança frustrada
Agora faz o que tem que fazer
E reconstrói, mais forte, a tua morada"
E eu, cansado de pensamentos alheios
Retornei à ruína esquecida
Destruída por meus devaneios
E mesmo que em pedaços convertida
Agarrava-se em meus braços cheia de vida
Tudo ficará bem - Quis prometer
Mas já bastava de fantasia prometida
Daquela vez a promessa seria contida
Pois chegara a hora de fazer
Fazer acontecer.