METAMORFOSE

A noite vem, envolve-me em seu abraço,

inunda a minh'alma com os seus mistérios.

Um bando de vagalumes, lampiões aéreos,

baila em silêncio esvoaçando no espaço.

Então sofregamente os meus sonhos caço

entre avenidas, multidões e cemitérios

e nesse labor insano, quase inútil e sério

perco-me absorto e pelo tempo passo.

Meus disfarces, minhas máscaras desfaço

e sobre o tenso rosto nu com lágrimas traço

a maquiagem nova para o amanhã - futuro.

A minha alma combalida muda em aço,

esquece todo dissabor, todo fracasso

e adormeço bem mais forte, mais seguro.

Bragança - Pa, 15 de abril de 1964.

(da série Primeiros Cantos)