A disseminada esperança
I
Quando damos conta de nossa vocação
o nosso coração chora alegremente.
As artérias; o sangue oxigenado
bombeiam gentilmente. E, levam ao cérebro
um pouco da virtude que se espalhara
por entre as reflexões.
Estas já o foram amargas;
as ponderações pediam o equilíbrio.
Suponhamos agora, que estatelado ao chão
vozes dum brado parassem por conta
do desequilíbrio.
O que fazer então?
Nesta ponte encruzilhada, sendo que a
esperança, jaz desacordada?
II
É verdade,
um feriado a mais se aproxima,
e dormindo está a vontade de perdoar
a si próprio.
Entremente, porque a palavra inutilizá-la?
Latente, ela figura por detrás das controvérsias.
'Sempre ardilosamente composta de indizíveis
peripécias...'
III
(Aqui) estou. Deposto de minha branca cama,
arrumado, e, feito tal qual pássaro liberto
duma gaiola equinocial.
Por que então olharei o paralelo,
se o que tenho em mente, está bem a minha
frente? Andando lado a lado, é que está a vaidade
de se achar incólume e imerecedor de tal oferta.
Um pouco disso tudo. Disso tudo, um pouco,
atrevo-me. Um dia quem sabe... não!
Agora é o Dia! De dar voz a razão.
(Aqui) estou. Por que não engendrar um plano,
(uma planificação de minha palavra)
que dure, quem sabe, mais do que um ano?
[...] Vez ou outra, a torneira fecha-se.
Porém alguém há de abri-la e,
da face, um pouco refrescá-la.
Já dura um segundo, então, o jeito
é fazê-la confiar. Num segundo já existe
a confiança. Ela foi disseminada por
frágeis mãos.
Somente algo esperançoso. Um tributo
aveludado, à sua memória, que a faz levar
a mão ao rosto e, perguntar-se se foi
verídico.
Mas, escapa-lhe como num salto...
Ainda sim, mais uma vez suponhamos.
Faça-se em atenção à essa humilde suposição.
Reveja o que foi lhe dito. E, coloque o amor
ineficaz à dar corda a uma falsa suposição.
'É o que vês. Um mero algoritmo. Um anagrama
perpétuo. Ao invés de Amor, vês Roma em
decaída.'
A decaída maneira de enxergar-me. Mas, estou
em trajes, e não em andrajos. Suponha, que
lhe é agradável relembrar-te da minha forma.
Do toque e, da palavra balsâmica, que lhe
ofertava à troco, que frutificasse em mim
sua consideração.
IV
Se o que tenho agora são restos
duma sabedoria partilhada,
vejamos meus sentidos:
tato,
audição,
visão,
olfato,
e por último
o paladar.
Todas juntas deram insalubres formas
que banhavam o mar de sua congenere beleza.
E, agora é a sua vez. Sentada relembrando.
Analisando forçosamente. Em sua cadeira,
e depois jogada, pensativamente, na poltrona
de sua sala de estar.
O que vês afora das vidraças?
Contornos dissimulados
ou
quem sabe órfãos da oportunidade de serem
merecedores de algo generoso?
[...] Nem há tanta nevoa assim. O dia tratou
de levá-las pra bem longe.
(E) longe está.
Longe (foi-se).
Longe retorna de tão longe.
Que de longe é a longitude de seu pensar.
[...] Somos inquilinos duma casa de aluguel
em ruínas,
ou,
jovens herdeiros dum genuíno paradoxo
que derrama-nos em intensa alegria?
V
No que pensas meu amor? Acaso relembra-te
que no dia de nosso primeiro encontro, falava-te
de que na cama de minha mãe lá estive,
a disfarçar meu choro, pra não dissimular meu
culposo estado?
VI
Sabes tanto disfarçar que meu verdadeiro intuito
é relembrar pra cada alma, o que cadafalso nenhum
dará conta de mostrar.
Amor esperançoso, de rentável fonte e, que gera lucros
amontoando em pilhas e pulhas de generoso calor humano.
Trabalhos que todos querem ter, mas poucos que
possuem a vontade. Só alarmada vontade. Esmiuçada
em paradigmas que costumam entrechocar-se,
nos ônibus que os deixam tão próximos do trabalho
diário.
Se acompanhares o raciocínio, verás que ponderaste
e, triunfaste um pouco mais. Trazendo(-me) pra
perto de ti, num abraço sazonal, donde a primavera
é vivida.
Cortaste o ramo um centímetro a mais. Um centímetro
de menos. Desses ramos que germinam ideais que
são falsificadas, quando a refeição do meio-dia
é servida na mesa do lar.
Já cortado um ramo. Um ramo posto de lado.
Afora vida que algo brota em meus pulmões
planificáveis,
por sementes. Sementes plantadas, regadas e colhidas,
ao toque de seu sono.
Dormes tarde. E a vida pede curto despertar.
Poucas horas (que se há) pra ponderar. Contudo,
algo mudará. Mudarei dalguma forma.
VII
Devoradas está sendo a Verdade no despertar
do horizonte. Flanando alígera... as conclusões.
Que nos são trazidas pelas cegonhas, dalgum
afrodisíaco interesse. Franjas que nela se
demonstram. E nos quedam, feito crianças inocentes.
Minha mãe e a tua, por nós dois torcem. E,
todas as mães, de todos nós. Entre terços,
bençãos, livros científicos, ou, até mesmo
numa ligação internacional, emocionada.
Não seremos levados por estes pássaros.
Eles apenas trazem-nos algo. Agora resta
saber se faremos algo com o que eles
nos trazem, e a cada suposição e conclusão
chegada, lembrarmos que eles estiveram
em altas paragens.
Por detrás de seu pensamento e, de todos
que querem me ouvir, disseminando
em vossas almas minha esperança.
É para o alto que apontam vossas faces
e, encaminham desejosos votos de felicidade
descomunal, ou para o frio desolador
dum traidor vício, que resguarda-se numa
falsa virtude?
[...] Caminhe calada.
Caminhem calados.
Sem livro algum debaixo do braço.
A audácia daqui não nos alcança, enquanto
estiverem aqui sob o efeito do meu
refletor de pureza.
Reflitam francamente, numa alma perpendicular
aos vossos sonhos, formando um triângulo da
mais pura solicitude,
'À Mim
Que sou teu reino,'
não lhes será retiradas as mãos de conforto,
'Sob o Meu nome'
hão de escutar.
Alguém como vós (e a você), que passaste
pela minha vida deixando rastro. Pegadas essas,
que farejo como cão apegado ao dono.
Desapeguei-me das falsidades e, agora sim,
pronto estou para disseminar em vossas almas
(e na tua alma)
minha (sincera) esperança.
Pronto estou.
Pronto agora.
A receber de ti aquilo que ansiosamente
esperavas mostrar-me tempos atrás.
***
São Paulo,
02 de janeiro de 2011.
* Poema em versos brancos.