Retirantes
A seca devorou o sertão
Choram os filhos da miséria
Órfãos da dignidade e pão
Expatriados da terra.
Partem em lenta procissão
À Padim Cícero, exortações
Fé na divinal proteção
Amenizar as aflições.
Espinhosa e longa caminhada
Sob o sol abrasador
Fome e cansaço na estrada
Impotência e amargor.
Surge então pequeno alento
A ilusão da grande cidade
Apaziguador momento
indícios de prosperidade.
Qual trastes inúteis alojados
No cortiço fétido e imundo
Dormem incautos os albergados
A sonhar com o novo mundo.
Na aurora escura, acinzentada
Sombras e seres em movimento
Dorido frio da madrugada
Esperança e encorajamento.
Idas e vindas, lamentações
E o emprego sem garantias
A suavizar atribulações
Por pouco, alguns dias...