Náufrago
Essa sobra gigantesca da sua falta
é fartura que não desejo, faz mal;
rastros do desamor e a sua malta,
grandeza vazia e, quanto mais alta,
maior o assento desse baixo astral...
Cada carícia que adormece sem uso,
calor que esfria esperando tua pele;
inda processo a solidão, pelo abuso,
por manter, a um inocente, recluso,
se culpado, que a sua culpa se revele...
Disfarço as ânsias como isca, ao anzol,
mas, em poemas, desnudo-me, um rio!
O objetivo ímpar, e os anseios, um rol,
A natureza se renova sob a chuva, sol,
E amor vero sobrevive, sob geada, frio...
Assim, náufrago na ilha do desengano,
a sobreviver improviso, abrigo, comida;
tem sido inútil contemplar esse oceano,
até o SOS na areia, nenhum aeroplano,
para devolver-me à plenitude da vida...
Mas, como teus olhos, minha esperança,
Verdeja pós inverno antevê a primavera;
Estações do amor, são, outra ordenança
sem tempo, quando o querer se alcança,
mudam, mesmo em junho, inverno já era...