Querida noite
Querida noite
Tão escura esta por vir
Se veste nua e faz ruir
Meu coração adolescente
De tantos desejos
De tantas questões
De letras e borrões
Que morre em textos
Pesados em caris manchado
De luas atraentes
De língua entre os dentes
De gosto amargo
Querida noite
Cai sob o meio fio
No capô frio
Na janela e no murete
Cai em poeira
Que sobe dançante
Na luz do poste
Que nem brincadeira
Mas...
Por que não é?
Devo ter fé?
Caminhar em paz?
Há esperança na cadência
Nas batidas lentas
De um coração as pressas
Algures atrás da inocência
Peço a solidão do céu
Que pare de gemer
Só para eu poder
Sofrer como o réu
De coisas que criei
De coisas que perdi
Das vezes que impedi
Me vigiar em sua lei
Querida noite
É tão larga e estreita
É tão quieta e meiga
É viúva e carente
Percebo as ruas
Vejo e escuto a madrugada
Agitada e calada
Infinitas lamúrias.