Frutos da espera

Nesses dias que a vida dá tapas na cara,

Escurece o sair e sonega a nossa espera;

Acalma até o vento se cremos que vira;

Faz minutos vastos, como se, uma hora,

Felizes os que, contam com a cara, dura...

Queremos acalento, só o que tem é vara,

Devaneamos complemento, eis, a tapera,

mesmo o poema é pobreza que o inspira,

sonho, um devir distante, solidão é agora,

martelamos esperança, entorta, não fura...

Não há adoçante pra essa erva tão amara,

Olham pro chão todas cabeças da quimera;

Ilusão desiste de fingir dar, a realidade tira,

Cansa, fantasiar dentro, quem erra lá fora,

Certas ervas, só acrescem mais amargura...

Mas, chega um dia em que a desdita para,

Tanto gira, a Terra, que amadurece a pera;

O Fado decide colocar combustível na pira,

E a ventura galopa, sem carecer de espora,

A dor à alma, como tempo ao vinho, apura...

Vira fato, o que fora anseio, mero, tomara,

O sentido coloca suas insígnias, na espera;

Faz urgente boca a boca, esperança respira,

O produto, enfim, é dois, pós os noves fora,

Que se reduz a um na amálgama da ternura...