O feitiço
Vá que a ternura dormida desperte melhor,
Que quando deitou em berço compulsório;
O seu trem só faz sentido no trilho do amor,
Em casos assim, tempo pode sanar o motor,
Mudar a visão dela, mudando observatório...
Vá que a ternura dormida desperte anseios,
De quem, agora, cogita como tal coisa, seria;
E os inquietantes anos inteiros foram meios,
De devaneares com minérios de novos veios,
Ou, reabrires a mina que fora dada por vazia...
Vá que a ternura dormida inquiete seu sono,
De modo que nela, já nem dorme, pensando;
Cogitando que o coração confundiu de dono,
E que, quase equivale a viver num abandono,
Estar assim, alheia, com alguém, não estando...
Vá que, para a ceia vindoura, mude a comida,
E, que o melhor manjar ainda não tá na mesa,
Aguarda a ocasião pra com pompa ser servida,
Pois, algum feitiço do bem conserva a dormida,
Até que seja despertada pelo beijo da princesa...