CHORA MARIANA
CHORA MARIANA
Chora Mariana, Chora Bento Rodrigues, Chora Minas Gerais!
Os filhos perdidos, as vidas partidas, os sonhos decepados.
A lama que sepultou as esperanças, o rio quemorreu.
A incompetência, o desatino, o despreparo, lançaram
Barragem abaixo um universo infernal de rochas e paus!
Como uma Pompeía e Herculano modernos,
Uma pequena cidade, uma corrutela, um povoado
De gente simples, bruscamente agredida por
Uma poderosa multinacional,
Perdeu o que tinha de melhor: qualidade de vida!
Repouso de tropeiros, ruas tranqüilas, cachoeiras
Geléia de pimenta biquinho, a coxinha famosa,
Não existem mais.
Ao caudal de choro, juntam-se um rosário de cidades, que
À falta de providências imediatas não foram poupadas
Chora Governador Valadares, sem água e com barro.
Chora Colatina, chora Linhares, chora Espírito Santo.
Nem teu nome afastou essa praga chamada rejeito.
Mais que a lama, dói a falta de apoio, a falta de atenção em restaurar,
Em recuperar, em se redimir do mal causado. Multa? Que multa trará de volta os filhos,
Os amigos, os entes queridos, as tardes de bate papo na praça?
Os banhos de cachoeira, a arquitetura antiga, o pé de moleque?
Alguma multa tira a dor do peito?
Choramos nós, brasileiros, que vemos desfilar ante nós absurdos
E mais absurdos, sentindo uma impotência vinda da nossa humildade,
Um estupor paralisante e, desamparados por quem de direito, acreditamos
Haver alguma maneira de minimizar fatos como esse.
Mas não sabemos qual é.