Destino

Inquietação pulsa dentro de mim como uma bomba relógio

Meu corpo se dissolve aos poucos enquanto antecipa pior

Como uma vidente de quinta

Prevendo tragédias no tarô

O destino é um rio

E eu sou só um peixinho dourado

Tentando nadar contra a correnteza

O inevitável é uma cachoeira poucos metros à frente

Mas minhas barbatanas lisas ainda se agarram inutilmente às pedras cheias de limo

Quero imaginar noites de amor e luar

De violinos e banheiras de espuma

Chocolate derretido e corpos entrelaçados

Ao invés disso, vejo sangue e escuridão

A melodia da morte sufocando lentamente

Monstros escondidos debaixo da cama

Prontos para agarrar pescoços inocentes com suas garras

O destino é uma tempestade

E eu sou só uma folhinha verde

Tentando voar para o outro lado

O inevitável é um relâmpago cintilante

E seu trovão ecoa entre minhas nervuras até quase despedaçar-me

Mas ainda tenho em mim a cor da esperança e preciso lutar

Quero um milagre que me salve da garganta faminta do tempo

Quero um sonho realizado num dia de céu azul

Quero minha pele dourada contraída docemente contra a sua

Enquanto uma melodia suave toca despreocupadamente ao fundo

Quero tua voz rouca junto a mim, preenchendo os espaços ocos que ressoam dolorosamente aqui dentro

Quero segurar tua mão e fugir do destino

Evitar o inevitável

Só mais uma vez

O destino é um tigre feroz

E eu sou só um coelhinho branco

Correndo sem rumo por sua vida

O inevitável é uma porção de dentes afiados

Cravados sem piedade sobre minha carne

Mas ainda suplico que alguém ouça meus guinchos desesperados

Salve-me do destino

Resgate-me do inevitável

Deixe que o mundo seja doce

E meus olhos brilharão outra vez

Como se o amanhã fosse uma bela flor

A colher num vasto jardim