O Canto do Caipira
Era alta madrugada.
Cheguei sem te avisar
Morena te vi chorando
Também me pus a chorar.
Depois foi que percebi
Que você estava a rezar
Pedias por esperança
Para eu não me desanimar.
Pra não cair na tentação
Do dinheiro sujo ir buscar.
Te amei muito mais ainda
Rezei e pedi perdão
Por ter contra Deus blasfemado;
Pois bati em tantas portas
E encontrei tudo fechado.
Amanhã é outro dia
Com o peito cheio de esperanças
Vou sair para batalhar
O leite e o pão das crianças.
Talvez haja quem ame a poesia
E queira comigo trocar.
Vou pegar minha viola
Vou para as ruas cantar.
Sou um caipira na cidade
Um sem terra pra lavrar
Agradeço a Deus no entanto
Poder oferecer o meu canto
Para quem quiser escutar.
Esmola eu não quero não
Pois como disse o poeta
Ela envergonha o decente,
ou vicia o cidadão.
Vou mostrar minha poesia
Se me ouvires e gostar
Então, sem hipocrisia
Aceitarei o teu pão.
Deus me deu o dom da palavra
E olhos bons para ver
Os escondidos das almas
E o que as fazem sofrer.
Talvez seja este o meu ofício,
Ter nascido para cantar;
Pois então, sem tempo
pra desperdício
Vamos o chão duro lavrar;
E com a mensagem da poesia
numa doce melodia
Faço a alegria brotar.