SÚPLICA POR CONHECER BETÂNIA

Tenho-te, assim como tens também a mim.

Apenas desconhece-me no infortúnio do acaso.

Mas conheço-te tanto e tão profundamente que confundo as tuas coisas com as minhas.

Sei quando me chamas, desesperada, quando precisas de mim como objeto do que queres.

Sou teu, porque sem que perguntes respondo sempre.

Sou teu caminho que não percorres, teu destino que não vives.

Sei da tua alegria, acompanhada ou não do teu sorriso.

Sei da tua amargura, mesmo aquela que escondes mansamente por traz do tom da tua voz.

Sei da tua loucura, sei da tua paz.

Tua emoção me alcança arrebatadoramente.

Desconcerta-me tanto que não te deixo calar no intervalo dos teus suspiros.

Dize-me como a ouço e como me entrego vencido por teu encanto divinal.

Dize-me como em outras tantas horas me entrego embriagado aos teus trejeitos, teu olhar, teu silêncio.

A mão de dedos longos, os cabelos esvoaçantes se inclinam sobre minha alma cálida, entregue, pertencida.

Meu coração lateja, alma sussurrando um momento teu, um canto, um vento, um gesto.

Tanto bem fizeste a mim.

Como podes me impor a eternidade numa breve pausa do teu canto, entre dois olhares separados num piscar dos teus olhos perfurantes, contundentes.

Como podes exigir de mim que não a encontre se a ti pertenço. Como podes me negar ouvi-la.

A cada passo que dei houve um olhar lançado a ti.

A cada uma a quem amei, uma canção tua.

A cada engano meu, um soluço, uma carreirinha no teu show, um verso, um poema que não sei dizer, mas sei sentirmos, juntos, desconhecidos amantes.

Amo-te de um jeito irmão, de um jeito sem corpo.

Amo-te de uma alma única, de uma palavra ouvida no sussurro, de um jeito desumano.

Amo-te descabido, desmedido.

Amar-te-ei sempre, consolado por tua presença fictícia, onde aguardarei um dia possa conhecê-la, íntimo do meu ser.

Conhecer Maria, conhecer um dia, conhecer Bethânia.