NA ENSEADA DA VIDA
Meu pai tinha olhos mareados
De tanto olhar pro mar
Suas pupilas eram duas ostras a nos olhar
Hoje quando quero senti-lo
É só mergulhar na corrente do mar
E sinto sua benção um fanal guia
Nas borbulhas que me fazem cócegas
Na pele escamada pelo sal
Quando sinto seu abraçar de enguia...
Tantas crianças se desprenderam sem rumo e a nau
Se perderam até chegar
Ao óvulo ventrecha da tua praia...
Minha mãe entre furos e vertentes
Sou-te farol iluminando minha enchente
Não foi à toa que afluente
Cheguei nas margens de tua gente
Quantos milhões de irmãos pra trás deixei
Como peixes que morreram na rede
Porque não também de sede
Antes de chegar a maresia de teu ventre...