Resiliência

O tempo passou,

Foi desintegrando tudo ao meu redor e a mim mesmo.

Mas quase tudo permanece – não intacto –, mas permanece.

A poesia fibrila e é quase inútil, mas prevalece.

Os jornais impressos continuam sendo vendidos nas padarias e nas bancas,

A Praia da Costa ainda é linda,

Meu amor ainda não se casou,

Dona Mariana ainda vende quebra-queixo na caixinha azul...

Outras coisas foram arruinadas pela estupidez,

Mas, prostradas, têm esperança e enxergo nelas um sorriso entre as rugas.

Um sorriso na sombra, entre as rugas... Há esperança!

Da condição mais ultrajante e saburrosa,

Desde as linhas da morte, do bafor das sepulturas,

Ainda a vida quer recomeçar.

Rastejando, prostrada,

Ela resiste. E sorri.