O homem que desistiu

Lá vai o homem que desistiu de seus sonhos.

Roupas amareladas, retraído, com medo de ser notado.

Às vezes, o vejo bêbado, mas firme.

Talvez queira, com a cachaça, degustar os devaneios de uma poesia bastarda,

Mas eu sei que ele quer experimentar, sóbrio, a poesia autêntica,

Ou queira, ainda, anestesiar os espasmos da falta de perspectiva.

Segue o homem que desistiu dos sonhos.

Hoje, ele me disse que apenas os adiou,

Mas fiquei sabendo por aí que ele morre amanhã.

E os sonhos precisam de vida.

Vai ele na calçada, calado, olhando para o chão,

Repleto de conteúdos, mas sem recipientes para guardá-los.

O velho homem que abandonou os sonhos...

Ele tem o infinito dentro de si, mas não encontra espaço.

Talvez o homem que desistiu dos sonhos não tenha coragem,

E eu vou dizer isto a ele antes que amanheça.