O brilho
Ah, o medo que a vida acene sua mão,
Na hora que estiver de olhos baixos;
E introspectivo perca a ditosa ocasião,
Distraído olhando pra uns reles seixos...
Porta se abre quando a ventura bate,
Antes que vá bater noutra freguesia;
Onde careço vencer não serve empate,
O que posso perder, não ocupa meu dia...
Baixar o olhar pode elevar a alma, e erra,
Quem pisa chão santo sem pés descalços;
Jesus Cristo curvo e escrevendo na Terra,
Desarmou uma horda de homens falsos...
No amor não sou humilde, antes, faminto,
Mero devaneio esperança arde seu facho;
se disser que não mais a espero, eu minto,
se acredito ainda ter chance? Sim, eu acho...
mesmo que o tempo revele os sonhos falhos,
que valeu tê-los sonhado, um dia, ainda direi;
dorme no fundo do olhar, gravado, um brilho,
que somente ela conhece, onde está o play...