Ballerina
Cá estamos nós novamente
Mas dessa vez não para descrever o amor
E sim para plantar uma pequenina semente
E lhe narrar um belo conto banhado a dor
Comecemos pois do início
Com duas sapatilhas,
A paixão por um sacrifício
E metal e linhas
Sonhadora era aquela menina
De longos cabelos dourados
Que rodopiava querendo ser dançarina
E que um dia deixaria todos apaixonados
Suas lágrimas rolavam
Conforme o maldoso tempo passava
E seus olhos mal enxergavam
O que o mundo lhe reservava
Quase veio a morrer
Quando seu sonho não deixaram alcançar
Mas essa pressa a fez sofrer
Então outro algo veio a amar
O metal prateado,
Leve e frio,
Fez de nossa garota um ser iluminado
E preencheu metade de seu pobre coração vazio
O ar que saía dela
E fazia som naquele metal
Era quase como uma oração dessa Cinderela
E para sua alma, um remédio letal
Melodias se embaraçaram
Quando por acaso conseguiu o que tanto almejou:
A piedade dos que sempre a prenderam
E aquilo que sempre desejou
Sapatilhas apertadas
Corpo perfeito,
Ao meio as unhas quebradas
Mas mudança em sua vida
Girava saindo do lugar
Com tanta maestria,
Elegância suprema na arte de dançar
Tal qual um cisne a se afogar em seu próprio voar
Suas alvas e macias plumas
Deslizavam suavemente pelo ar
Até o chão tocar
E a todos embasbacar
A linha tênue entre dor,
Amor,
Prazer
E temor
De asas cortadas,
Alçou voo baixo,
Tentando reconquistar a liberdade que lhe foi tomada
E jamais ficou por baixo
Essa foi uma amada dançarina,
Silenciosamente, uma flautista,
Belíssima bailarina
A quem devemos muitas palavras…