DUAS INFÂNCIAS

A infância que nunca tive

Têm bonecas de pano pretas

Cuia pra comer feijoada

Xita pra fazer almofadas

E muitas brincadeiras

A infância que nunca tive

Têm jambo macio

Carambola amarela

E maçãs verdes

A infância que nunca tive

Perdeu-se em algum lugar

Ficou nos porões dos negreiros

Na alma dos verdadeiros

Marinheiros

A infância que eu nunca tive

Tinha jongo, capoeira, maracatu

Tinha mães pretas

Crianças enroladas em capulanas

E cabiris à espreita

A infância que nunca tive

Será recontada

Por Omoro e Lunda

As frutas mais belas

Que carregarei em

Minha cabaça

De mulher

Darei à vida para eles

Através de meus ancestrais

E eles seguirão seus passos

Contarão suas histórias

E deixarão memórias

Um dia eles dirão:

“A infância que eu tive

Teve bonecas de pano pretas

Cuia pra comer feijoada

Xita pra fazer almofadas

E muitas brincadeiras

A infância que eu tive

Teve frutas macias

Caídas do pé

A infância que eu tive

Foi dada por minha mãe

Que era uma grande mulher”.

Jacqueline Oliveira
Enviado por Jacqueline Oliveira em 02/06/2014
Código do texto: T4829134
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