Por onde a guerra passou.
A guerra por aqui passou,
deixou no cenário os rastro das hostilidades e destruição
deixou tudo revirado, corpos desfigurados, animais acuados
deixou casas vazias e jardins pisoteados.
A guerra também deixou naquele mesmo cenário
um pequenino menino, que soube se esconder
órfão, faminto e maltrapilho, com um olhar assustado
o deixou só, o deixou solitário.
A guerra fez das lembranças do domingo passado
uma relíquia para toda a vida, e para este menino,
percorrer casas vazias e devastadas era um regalo
ao sonho de encontrar o seu recanto por ali
A gurra passou ferozmente, a muitos levou,
mas, não foi capaz de apagar cores, os traços geométricos
as expressões talhadas em telas improvisadas da mais pura arte
de uma velhinha cravejada de saudades de sua aurora
A guerra deixou um menino só,
a guerra levou uma artista
a mesma guerra no entanto, os apresentou
o menino entristecido às telas da nostalgia
Aquela velhinha domesticada e analfabeta
adotou um pequeno esquecido
o acariciou com suas pinturas
tão raras como a ordem
naquele sombrio espetáculo de quem só sobreviveu.