IMPROVISO


Amanhece a quinta-feira
hoje, a proposta é caseira
chove e leio Manuel Bandeira.

Tempestade e chuva mansa
brinco feito criança
de casinha e de esperança.

Passa o tempo sem abrigo
eu, pareço que nem ligo
mas você é meu amigo.

Anda a gente pela rua
a tristeza nua e crua
sem clarões de alguma lua.

Entre os rostos, um que eu penso
some pelo negro imenso
a rua é sombra perdida.

Busco um livro, me alieno
de seu rosto tão sereno
a sombra não mostra saída.

Às três horas, esmoreço
mas depois logo me aqueço
quando ouço a campainha.

Na hora da chuva mais forte
da escuridão mais total
vi um homem caminhando na chuva
e ele parecia não ter medo.