QUEM TEM MEDO DE QUEM II
“In hoc anima vinces!”
Se acordares p´ la manhã com muita ansiedade
Se não tiveres noção da tua própria idade;
Se o teu quotidiano não te disser nada
E te faltar a estrela p´ ra tua jornada;
Se não tiveres nenhum sustento à tua mesa
E os meios que tiveres forem de incerteza;
Se não tiveres clareza para o teu caminho
E não tiveres alguém que seja teu vizinho;
Se não tiveres bornal para levares bagagem
Nem recheio que baste para a tua viagem;
Se não tiveres ideia para onde ires
Nem sequer um projecto para construíres;
Se não tiveres lugar para te aconchegares
Nem um sorriso alegre para tu levares;
Se não tiveres na hora algum acolhimento
Nem coração aberto para aceitamento;
Se não tiveres em ti uma plena confiança
Nem uma cordial fé que te dê esperança;
Se não tiveres engenho para vencer o medo
Rasgando na memória este íntimo segredo;
Se não criares em ti uma inocente idade
Que te revele totalmente a liberdade;
Se vieres a descobrir que o poder nada te diz
Tendo vontade de o cortar pela raiz…
Grita ao mundo, em arreganhado desafio,
Que pretendes preencher de vez este vazio.
E, então, te hão-de perguntar com voz de lei:
- Quem és tu, cidadão, e qual a tua grei?
E tu responderás, com emoção: – Não sei!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA