CANÇÃO DOS POETAS ANÔNIMOS ( Celismando Sodre-Mandinho)

EU TENHO UM MEDO TERRÍVEL DE QUE MEUS VERSOS MORRAM

SEM QUE NINGUÉM OS TENHAM CONHECIDOS, OU SOBRE ELES REFLETIDO,

ASSIM COMO UM PAI TEM SEMPRE UM MEDO PROFUNDO

DE QUE SEUS FILHOS DESAPAREÇAM PREMATURAMENTE,

SEM AO MENOS CUMPRIR SEU PAPEL NO CICLO DA VIDA,

DESIGNADO POR DEUS OU PELO DESTINO,

PELO ACASO OU PELA LEI DA NATUREZA.

POSSO DIZER QUE MEUS VERSOS SÃO COMO MEUS FILHOS NEUROLÓGICOS,

PORQUE NASCERAM DAS MINHA IDÉIAS E REFLEXÕES,

E ASSIM COMO EU QUERO QUE MEUS FILHOS PROCRIEM

PARA A VINDA DOS MEUS NETOS E FUTUROS DESCENDENTES,

QUERO TAMBÉM QUE MEUS VERSOS, FILHOS DA MINHA MENTE

FAÇAM NASCER OUTROS VERSOS FILHOS DE OUTROS PENSAMENTOS,

COMO UMA ETERNA CADEIA DE DESCARGAS ELÉTRICAS CEREBRAIS,

CRIANDO RIMAS E ENERGIZANDO O MUNDO DE POEMAS,

REDESCOBRINDO UMA CERTA SENSIBILIDADE PERDIDA.

ÀS VEZES, PENSO TAMBÉM QUE MEUS VERSOS SÃO MEDÍOCRES

NÃO DESPERTANDO NUNHUM INTERESSE PARA A VIDA PRÁTICA,

E SINTO A DOR E O REMORSO DE PENSAR ISTO

COMO A DOR DE PENSAR MAL DOS FILHOS QUE NASCERAM DE MIM,

POR ISSO INVADE-ME UMA SÚBITA CONSCIENCIA DA INUTILIDADE

DOS INÚMEROS E DESCONHECIDOS VERSOS PERDIDOS,

DOS VERSEJADORES ERRANTES QUE VAGAM PELO MUNDO

DESPERTANDO UMA ANGÚSTIA BEM NO FUNDO DA ALMA...

E SINTO A MINHA DOR E A DOR CONJUNTA DOS POETAS ANÔNIMOS.

MAS... QUANTO POETAS ANÔNIMOS CRIARAM PÉROLAS LÍRICAS

QUE PRECISARIAM SER ESPALHADAS PARA TODOS OS OUVIDOS

E FORAM AMORDAÇADOS PELOS ENTRAVES DA SOCIEDADE,

E PELA CONSPIRAÇÃO DESFAVORAVEL DO DESTINO.

E QUANTAS PALAVRAS E CONÇÕES SUPERFICIAIS

ENCONTRARAM ECOS E REPERCUTEM INSISTENTEMENTE

PELOS DIVERSOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA,

MOVIDOS POR OUTROS OBJETIVOS QUE NÃO OS ESTÉTICOS

NUM MASSACRANTE PROCESSO DE IMPOSIÇÃO PELA REPETIÇÃO.

NÃO POSSO CONTER UMA PERGUNTA QUE BROTA INSISTENTE

E ECOA PELO CÉU AZUL QUE NOS CERCAM,

A SOPRAR CONSTANTEMENTE COMO O VENTO

PROCURANDO UMA RESPOSTA QUE NUNCA VEM,

MAS QUE EU INSISTO EM PERGUNTAR.

PARA ONDE VÃO TODAS AS POESIAS CRIADAS?

QUE SURGEM E SE PERDEM NA CONFUSÃO DO MUNDO,

VIAJANDO PELO ESPAÇO IMATERIAL DO QUE NÃO VEMOS.

NÓS QUE SOMOS TÃO APEGADOS AO MATERIAL E UTILITÁRIO

E NÃO CONSEGUIMOS VER ALÉM DOS ÓRGÃOS DOS SENTIDOS.

(Do livro "Cancões dos Poetas Anônimos-2001-tel-74-36541616)

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 29/04/2007
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