A UTOPIA DA ESPERANÇA II
“O que fazer?”
O mito da “mais-valia”
É a arma do Capital
Tem nele a sua energia
E também a garantia
Do lucro primordial.
Arrastados pelo vento
Da nefasta servidão
Faz-se fé no crescimento
Com todo o deslumbramento
Da abjecta exploração.
O trabalho pouco importa
É uma questão trivial
Quem o tem tudo suporta
E até o empresário exorta
Para um salário banal.
Vai-se à feira ou ao mercado
Com oferta sempre à mão
Há consumo assegurado
E se não houver cuidado
Só se vê especulação.
Leve três e pague dois
Com dinheiro ou com cartão
Se não tiver pague depois
Durma bem entre lençóis
E não passe restrição.
Os bancos são bons amigos,
Com distinção, sem usura,
Livrá-lo-á dos perigos
E de fingidos abrigos
Com acrescento e lisura.
Haja esperança no amanhã
Boa escola e melhor saúde
Se houver crise se verá
Há-de haver sempre um maná
Com qualidade e virtude.
Ponha de lado a chantagem
Sem peias e trocadilhos
Cumpra sem medo a viagem
Com garantida passagem
De bons pais para bons filhos.
Ai viandante da vida
Desta saga tão inglória,
Nesta utopia sentida
Sem condição nem saída
Não há esperança nem história.
Mas, neste quadro falsário,
Inda é possível sonhar
Num horizonte primário
Há um caminhar solidário
Para a alma despertar!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA