= MATURIDADE =

Eita Vida!

O que me fizestes?

Em meus olhos, há fuligem do tempo.

No corpo, as implacáveis marcas de passados momentos.

E na alma, muitas cicatrizes se salientam.

Eita Vida!

Por que me revelas?

Comi da estrada o pó

Senti minhas pernas, de tão cansadas, darem o nó.

Titubeei, arrastei, adormeci, desfaleci

mas nunca deixaste-me desistir.

Tu és sádica ou amiga?

Fazendo-me, a tudo, assistir.

Eita Vida!

Lembra-se, que eu quase desisti?

Ao meu lado de braços aberto, a morte.

Trazia em si o frescor das sombras das árvores

as flores em sua plenitude

o silêncio que embala a alma

e o fresco da paz.

A duvida me fez companheira.

Aos berros mandaste-me prosseguir.

Eita Vida!

Jogastes em meus braços, amigos e amores.

Fizeste-me degustador dos finos manjares dos sentimentos.

Fez-me crer em dias infindos de bons momentos.

Acreditei no poder de persuasão, pelas palavras e as flores

Mergulhei-me com força na doce ilusão.

Apresentaste outra vez a derrocada.

Ceifastes muitos amigos, dos amores, deixastes somente as dores.

O que fez comigo, velha companheira?

Eita o Eu desentendido!

Do agradecimento à Vida, amiga esquecida.

As fuligens são frutos dos meus descuidos

Meus olhares nem sempre eram retos

olhava um mundo torto.

No corpo as marcas doídas, sinais do crescimento.

Na alma cicatrizes, rasas ou profundas

São verdadeiros canions, montes e serras

Rasgando tal e qual a terra

Quando desbravado e vencido

É o lugar que voltamos e encantamos

São grandes artes do mistério da Vida.

Eita o Eu perdido!

Esqueci que no pó e na estrada

sempre havia uma cachoeira e um regato

onde a sede era saciada.

Uma grama bem verdinha

as pernas na grama estendida

Dava-me força para continuar a jornada.

Não fostes Tu, sádica nem inimiga

O que tu queria

Era ensinar-me ao longo da minha Vida.

Eita Eu!

Me vi no colo da morte

senti-me com muita sorte.

O sofrimento terminaria ali.

Buscaste-me no atravessar da fronteira

o Eu, sem eira e sem beira.

Covarde ou descrente?

Fez me acreditar que dali para frente

À passos bem mais lento

Experiente, quem sabe até um pouco competente?

Descobriria alguns de teus mistérios.

Eita Eu!

Obturado, cego e nunca mudo

Faltou-me entendimento, fui entregue nos braços de amigos e amores.

Mestres do bem.

Ensinava-me, do dia a dia, a lição.

Dos bons sentimentos, o manjar mais perfeito

fizeram-me degustar.

Ensinaram-me usar as doces palavras.

Mostraram-me, que das flores vem a força

para o amor cultivar.

E eu, louco, insano, egoísta, prepotente

não aceitava que aquela amada gente

para o Pai teriam que voltar!

Da bendita saudade

busquei apenas a infelicidade

para comigo vir morar.

Eita Eu!

Que sofri, alegrei, sorri e chorei.

Ao entardecer do meu tempo

Aprendi que tudo tem alento

A humildade e o amor são o sustento

Que a nossa estada aqui na terra , nos traz aperfeiçoamento.

Agora muito mais feliz, sei o que faço de ti, Vida minha...

De mãos dadas com os homens e com Deus vou adiante.

Agora eu, a ti, oh vida, entreguei-me, com amor, de corpo e alma

Embora em caminho bem menor a trilhar, ate o resto de minha amiga Vida.

TONHO TAVARES.

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 07/01/2014
Reeditado em 23/01/2014
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