Goteiras na alma
Pardais festejam a consequência do ninho,
enquanto pondero o resultado da escolha;
asas descobrem o inédito e leve caminho,
anelado vinho inda dorme, escuro da rolha...
Coração mendigo vestiu sonhos de linho,
ainda ressona solo em colchão de palha;
cada ato pensado pra a ópera do carinho,
permanece preso qual garoupa na malha..,
Tempo sarcástico passa sorrindo baixinho,
exibindo tantos gaiatos com suas parelhas;
o sim, alheio acentua o não, um pouquinho,
perpassando alma, como goteira, às telhas...
Mas, uma hora o casulo cederá um tantinho,
atracando navio ventura nessa desolada ilha;
os anseios cantados no poético pergaminho,
serão fatos, enfim; ventura gerará uma filha...
Por ora só o balanço do perdido no caminho,
posses que a sina madrasta vem, e esbulha;
mas, em sobrepartilha virá o amor, adivinho,
e o barco do amor seguirá o rumo da agulha...