Antes de Fechar os Olhos
Pensando no que está andando ou voando
Na parede ou no teto, brancos em luz
Querendo adoçar a boca antes de voltar
E esticar-me esperando possíveis sustos
Na dor de palavras que nunca vêm iguais
Querendo nenhum barulho que não seja outro
Cai, esbarra, dobra, vira, tapa e escreve
Forçando olhos num escuro doente
Em neblinas turvas vistas em prédios de manhã
Faz-se a introdução do calor que antes acontece
Num compromisso de rotinas que me perseguem
Meses a fora para dentro da minha cabeça
Imaginando, temendo e morrendo de medo
Sem saber da letra grande que não será entendida depois
Não contando linhas para que possam converter-se
Ouvindo de novo o que acontece no quarto ao lado
Batendo em cordas grossas que o som maciço não sai
Não vejo o que escrevo, mas sei o que quero e passo
No sufoco de uma palavra sempre repetida
Que meu legado vai se fazendo no mundo
Com medo do que virá se eu largar e fechar os olhos
Águas, perseguições, mortes, tentações e abandonos
Fracassos mostrados sempre toda noite
Loiros, molhados, perdidos, na voz da vossa vez
Com dor no estado de alerta dilatado, quero sair
O medo que agora me dá antes de dormir
Uma oração muda não tira o que está gravado dentro e fora
Apenas alivia a dor e adianta a hora que é agora.