COTIDIANO
O sol nasce acima da cerração
E não adianta tentar impedir a aurora
Que fustiga a madrugada cinza
E escava com seu cinzel dourado
Os olhos visionários do poeta.
Pingam dos arbustos o véu da manhã,
Molhando a terra com a mágica do dia,
Fantasiando as trilhas tortuosas
Por onde o rebanho dos homens escoam.
A manhã sempre renova os anseios
Que alimentam bocas no correr do dia,
Quando somos além ou deixamos ser
Apenas o que nos dizem as pedras.
Aos poucos o futuro corre de nós,
Perseguindo o sol por detrás dos montes:
Hora de montar acampamento,
Descansar as frustrações diárias
E nos acobertar na noite fria e muda
Para retomarmos a caça
Ao futuro que nos sabota conquistas,
Mas que jamais vedará as frestas
Por onde olhos de esperança escapam.