ENVELHECENDO
Envelhecendo...
Estou envelhecendo
Os contatos, as lembranças
Esquecendo
Meus desejos de amor
Distanciando
Tudo beirando o infinito
Tudo beirando aflito...
Debulhando as mentirinhas
Que surgem nas entrelinhas
Vislumbro tristonha a dor
Não a dor seja qual for
Mas a dor do esquecimento
Que fisga a todo momento
Lembrando com crueldade
Minha senilidade...
Lembranças que já escaparam
Das memórias que fotografaram
De maneira tão detalhadas
Minhas coisas verdadeiras
Coisas da vida passada
Tem ternuras desperdiçadas
E ansiedades desencontradas
Um monte de amor ofertado
Saudades distanciadas...
Estou envelhecendo, sim
E com isso vou dizendo
Que valeu a pena viver
Sentir a lua sorrindo
Minha passarada surgindo
Tão lindas de enlouquecer
Valeu a pena sofrer
Valeu o meu padecer...
Muitas dores me cercaram
Saudades me machucaram
Amigos me ampararam
Calores me confortaram
E em muitos momentos felizes
Tive que segurar a emoção
Para continuar a viver
Nem que fosse de ilusão...
Mas velhice não é castigo
É apenas o epílogo
Dos tropeços desta vida
É, por fim, o somatório
Dos amores esquecidos
Das lembranças tão queridas
Que marcaram nossas vidas...
Os meus cabelos grisalhos
Mostram, da vida, os retalhos
De lutas e esperanças
Lembram muito os amores
Lembram sonhos, lembram dores
Anseios tão multicores
Lembram também muitas flores...
Deixa a poeira baixar
Deixa tudo se acalmar
Para poder falar da vida
Serão lacunas de dores sofridas
Serão também momentos inebriantes
Afagos puros, constantes
De amores esfusiantes...
Mas enquanto tiver alento
Que possa me consolar
Serei pedra sem desgastar
Serei ventania no ar
Serei luz pra clarear
Serei chuva pra molhar
Terei minha vida para amar...
Myriam Peres