As mãos

Tem uma criança tentando nascer

e já tem nome...

O parto está difícil e eu faço muita força.

Meu filho não quer sair. Torço as mãos...

Como dói! Como dói! Como dói!

As contrações vêm e vão, mas a sua cabecinha não vejo, só sinto.

Sei seus traços, sua cor... cor de dificuldade, de trabalho puro...seu gosto...

Acho que ele tem medo desse mundo obscuro, frio, dolorido.

Mais uma maldita dor, fina como uma faca. Sai um pouco de sangue. Falo um palavrão...bem feio para quem toca as palavras com ternura...

Acontece...

As contrações aumentam, bom sinal...

Estou só em casa, neste mundo moderno.

E uso as mãos, aperto bem fundo, bem íntimo, e o sinto...

Ele está vindo, devagarinho...

Eu uso as mãos, as minhas mãos, e toco a cabeça, o corpo...

Neste mundo moderno...

As mãos servem pra tanta coisa

Meu filho vai sair...

Vem pra esse mundo bonito, aflito, mas vem...

Uma última dor e ele sai, corta meu coração...

Estou viva! E que parto!

Nasceu um poema... Meu filho!

Lucieni B Santos
Enviado por Lucieni B Santos em 23/07/2013
Reeditado em 05/09/2013
Código do texto: T4400249
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