A esperança mora numa janela.
Para a estrada lança um olhar,
Quando recria sua longa espera,
Da janela assiste o dia a passar,
A contar as horas nesta quimera.
Quase nada nela identifica vida,
Além do olhar úmido de esperança,
A chama que não lhe faz vencida,
Ao acender no peito a confiança.
Ela vive pela teimosia de sonhar,
Debruça nesta janela sua tristeza,
Instigada pela arte de perseverar,
Que não se entrega a fraqueza.
Confusas imagens vêm na memoria,
Que no seu desespero busca abraçar,
Alimenta-se desta infinita espera.
De ver na estrada, a filha regressar.
E na hora alegre da Ave Maria,
O canto vem afagar seu coração,
No ultimo olhar na estrada vazia,
A janela se fecha para sua solidão.
Com a mão entrelaçada no Rosário,
Apoiada nas cinquenta ave-marias,
Como uma sacerdotisa no breviário,
Busca forças para esperar outro dia.
Então adormece esta mãe da janela,
Com seus olhos rubros de melancolia,
Aos pés da Santa queima uma vela,
Para que a fé renasça em cada dia.
Toninho
20/05/2013