PORTÕES ABERTOS

É preciso muito equilíbrio para não bambear a corda.

Assim como é preciso muita loucura para perdoar a lucidez.

É preciso muito amor para perdoar o perdão imperdoável.

Assim como é preciso muita grandeza para sangrar e estancar feridas.

É preciso precisar porque quem cronometra o tempo é o próprio tempo.

Assim como é preciso sonhar um sonho inacabado mas que tenha um final feliz.

É preciso engolir um pesadelo que na verdade só existiu dentro dele mesmo.

Assim como é preciso ser para que a respiração não fuja.

São necessárias as pazes porque ela (a paz) nunca foi uma só.

Assim como são necessárias as guerras para o equilíbrio de nossas buscas.

São necessárias as palavras porque elas têm o poder de ao mesmo tempo agredir e afagar.

Assim como são necessárias as luzes que nos protege da escuridão e do medo de nós mesmos.

É preciso muita perna para bambear a lucidez.

Assim como são precisas a sensibilidade e a razão de amar eternamente.

São necessárias as atitudes porque elas sintetizam os gestos.

Assim como são necessárias as virtudes que não têm manto para se cobrir.

É preciso se saber, se descobrir no coração do fundo, no mundo do coração.

É ser novamente, de novo se for preciso, reviver, rebuscar, sacanear a existência e gritar lucidamente como um louco: estou feliz.

É preciso se desvendar, mas é mais necessário ainda, revelar-se a si mesmo.

Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 17/05/2013
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