GRITOS SEM TEMPO

Prendam-me nas asas desmanteladas do tempo

E, no cárcere, dêem cabo dessa frágil liberdade

Para que eu ande impaciente à procura da verdade

Mas antes, entrego-me as chicotadas impúdicas no campo

E sobre esse vazio eu ainda caminho obstinado

Por haver nos trilhos o brilho do novo sangue

Que se esvaiu de quem tentou fugir a gangue

E se esconde em caravanas ingénuas como exilado

E, repentina, a chuva limpa esses caminhos

Em que se amontoam lamúrias incuráveis

As quais se escutam nas almas inundáveis

De esperança que já não consola espinhos

Então, não sugiram que eu me cale

Enquanto houver cá o agitar fúnebre dos hipócritas

Que nas esquinas engraxam sapatos com fitas

E em filas peregrinam, esperando-me no eterno vale

Detenham-me às mãos e convocarei todos

A fim de, nas asas do tempo, voarmos indignados

Seguindo, adiante, esse alarde que aflige crucificados

E proíbe homenagens por entre gritos dos vencidos

Benguela, 19/04

Nkazevy
Enviado por Nkazevy em 19/04/2013
Reeditado em 23/04/2013
Código do texto: T4248369
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