DA BEATITUDE:
Quando todas as palavras forem ditas
Quando toda razão estiver vendida,
Quando você não for quem é.
Você se fará muletas.
Muletas dum monstro doente,
Um monstro canibal
De famintos e idosos.
Chamam-no capitalismo.
Rogo-vos muletas:
Rompa o aguilhão que se fez destino!
Funde ao meu peito,
O mórbido pesadume
A ira que me compele a cólera!
Hei de esvaziar tudo que é brando em meu espírito.
A paz encontra-se a esmo.
Todas as palavras agora mentem.
Veja-as nuas,
Veja-as ainda infância:
As crianças de verdade,
Envergonham os adultos de mentira.
Um versejar
Quando atinge a beatitude
Não esquece o tempo nublado.