Chico e a poesia
Ainda as dores patibulares,
Chico.
Ainda a ânsia
ainda a insonia, insensatez
ainda o pessimismo,
de ser gauche,
de ser doente
A lua escassa e você a
esperar.
Espera,
aguenta
Chico.
Ainda pulseiras de aços
ainda óculos e tosse
ainda caneta na mesa.
Não cresce o amor
não nasce o perdão
morreu o Adão
dúvidas na criação
dívidas e contramão
beijos em paixão
abraços anoréxicos
lágrimas nem salivas.
Apenas uma mordida
na tua mão metida.
Ainda com pena de ser,
Chico.
De verdade como é.
Ainda a insegurança
a falta de esperança
a solidão escondida
a saudade dividida
entre o coração e a mente.
Ainda o lumbago,
Chico.
O anel cinzento de noivado
guardado com fotografia.
Ainda a sede amarga
de água e sabedoria.
A joia que não se quebra :
Teu verso e a simpatia
de um conceito que nega
todos os males da democracia.
Tua bandeira guardada
debaixo da camisa.
Ainda teu sangue que pulsa
que rege orquestra e guia.
Ainda teu sonho a clamar.
Espera
aquenta
Chico.
Ainda conciliábulos e
pactos.
Mesmo assim,
espera.
Aguenta,
Chico.
Tua sorte não é pequena.
Ainda há borboletas
estrelas em espetáculos.
Cancões a criticar
Sorrisos a implorar
O mundo sem limites.
Teu sentimento existe.
Ainda há
poesia Chico,
ainda há.