Conversa corpo e alma
Um dia disse pro meu lado esquerdo,
- Quero ser rico,
O lado direito logo se manifestou,
- Pra que?
- Porque é bom, pra fazer tudo que sempre sonhei,
- É possível comprar amor? Negociar a paz interior?
Perguntou a ingênua mão esquerda, coçando levemente a orelha direita,
A mão direita com um lápis e papel escreveu: serei feliz custe o que custar!
Os dois ouvidos escutavam atônitos aquela gostosa discussão,
O pé direito bateu no chão pra ser notado,
- Posso entrar na conversa?
- O que tens a dizer? Tremeu a panturrilha,
- Gostaria muito de viajar com meu parceiro aqui do lado,
- Sempre me acompanha em tudo que faço, caminha comigo pra todos os lugares,
A conversa ia me interessando cada vez mais,
As duas mãos uniram-se, entrelaçando-se acima de minha cabeça e espreguiçando-se,
- Estamos tão felizes juntas!
Outras mãos passaram ao largo acenando,
Vários pés caminhando,
Braços fortes carregando,
Pernas se sustentando,
Bocas conversando,
O olhar não se desviava daquela cena,
- Que cheiro bom, disse o nariz,
Eu vibrava com tudo aquilo,
Logo sensibilizou-se o tato,
A pele estremeceu e arrepiaram-se os cabelos dos dois braços,
Os olhos mal conseguiam se manter acordados,
Tal a tranquilidade daquele momento,
A barriga gemeu, aproximava-se o almoço,
O vento e os cabelos encontravam-se.
- Ser rico pra que?
Repetiu quase irritado o lado direito,
O coração quase afogado em emoção, retumbava saltitante,
As veias pulsavam azuladas,
As artérias, fininhas, avermelharam-se coradas,
Não me contive e chorei,
- Foi uma ilusão, na verdade quero mesmo ser assim,
- Eu e vocês juntos e felizes.